segunda-feira, 26 de abril de 2010

Explorando Pedagogicamente as Regras do Handebol – A Equipe, o Goleiro e a Área do Goleiro, por Lucas Leonardo

Continuando o estudo que visa explorar pedagogicamente as regras oficiais do handebol, comentarei agora sobre as regras que incidem nos goleiros e na formação de uma equipe. (Fonte: http://www.ligahand.com.br/confe/regrasl.php)

Regra IV – A Equipe, Substituições e Equipamentos (Regra colocada parcialmente, dando ênfase para a formação da equipe, apenas)

4.1 Uma equipe consiste de 14 jogadores.
Não mais do que 7 jogadores podem estar presentes na quadra de jogo ao mesmo tempo. Os demais jogadores são substitutos.

Durante todo o tempo do jogo, a equipe deve ter um dos jogadores na quadra designado como goleiro. Um jogador que está jogando na posição de goleiro pode se tornar um jogador de quadra a qualquer momento. Do mesmo modo, um jogador de quadra pode se tornar um goleiro a qualquer momento (ver, contudo, Regras 4.4 e 4.7).

Uma equipe deve ter pelo menos 5 jogadores na quadra no começo do jogo.

O número de jogadores da equipe pode ser aumentado até 14, a qualquer momento durante o jogo, incluindo o período extra.

O jogo pode continuar mesmo se uma equipe ficar reduzida a menos de 5 jogadores na quadra. Depende dos árbitros julgarem se e quando o jogo deveria ser suspenso permanentemente (17.12).

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Regra V – O Goleiro

Ao goleiro é permitido:
5.1 Tocar a bola com qualquer parte do seu corpo enquanto numa tentativa de defesa, dentro da sua área de gol.
5.2 Mover-se com posse de bola dentro da área de gol, sem estar sujeito as restrições aplicadas aos jogadores de quadra (Regras 7.2-4, 7.7); ao goleiro não é permitido, contudo, atrasar a execução do tiro de meta (Regras 6.4-5, 12.2 e 15.5b);
5.3 Sair da área de gol sem a bola e participar do jogo na área de jogo; enquanto fizer isto, o goleiro se sujeita às mesmas regras aplicadas aos jogadores na área de jogo;
O goleiro é considerado fora da área de gol tão logo qualquer parte de seu corpo toque o solo no lado de fora da linha da área de gol;
5.4 Sair da área de gol com a bola e jogá-la de novo no área de jogo, se ele não tiver o completo controle da mesma.

Ao goleiro não é permitido:
5.5 Colocar em perigo o adversário enquanto em uma tentativa de defesa (8.2, 8.5);
5.6 Sair da área de gol com a bola sob controle ; isto conduz a um tiro livre (de acordo com 6.1, 13.1 a, e 15.7, 3º parágrafo), se os árbitros tinham apitado para a execução do tiro de meta; senão, simplesmente se repete o tiro de meta (15.7, 2º parágrafo); (ver, contudo, a interpretação da vantagem em 15.7, se o goleiro estava para perder a bola fora da área de gol após ter cruzado a linha com a bola em suas mãos);
5.7 Tocar a bola quando ela está parada ou rolando no solo do lado de fora da área de gol, enquanto ele estiver dentro da área de gol (6.1, 13.1 a);
5.8 Levar a bola para dentro da área de gol quando ela está parada ou rolando no solo no lado de fora da área de gol (6.1, 13.1 a);
5.9 Reentrar na área de gol vindo do terreno de jogo com posse de bola (6.1, 13.1 a);
5.10 Tocar a bola com o pé ou a perna abaixo do joelho, quando ela estiver parada no solo na área de gol ou movendo-se para fora em direção à área de jogo (13.1 a);
5.11 Cruzar a linha de limitação do goleiro (linha de 4 metros) ou sua projeção em ambos os lados, antes que a bola tenha saído da mão do adversário que está executando um tiro de 7 metros (14.9).

Regra VI – A Área de gol

6.1 Somente ao goleiro é permitido entrar na área de gol (ver, contudo, 6.3). A área de gol, que inclui a linha da área de gol, é considerada invadida quando um jogador de quadra a toca com qualquer parte de seu corpo.

6.2 Quando um jogador de quadra entra na área de gol, as decisões devem ser as seguintes:

* tiro de meta quando um jogador de quadra da equipe que está em posse de bola entra na área de gol com a bola ou entra sem a bola, mas ganha vantagem fazendo isto (12.1);
* tiro livre, quando um jogador de quadra da equipe defensora entra na área de gol e ganha vantagem mas sem impedir uma chance de marcar um gol (13.1b), ver também Esclarecimento nº 5.1;
* tiro de 7 metros, quando um jogador de quadra da equipe defensora entra na área de gol e por causa disto impede uma clara chance de marcar um gol (14.1 a).

6.2 Entrar na área de gol não é penalizado quando:

1. um jogador entra na área de gol depois de jogar a bola, desde que isto não crie uma desvantagem para os adversários;
2. m jogador de uma das equipes entra na área de gol sem a bola e não ganha vantagem fazendo isso.

6.3 A bola é considerada estar “fora de jogo” quando o goleiro a controla com suas mãos dentro da área de gol (12.1). A bola deve ser colocada de volta em jogo através de um tiro de meta (12.2).

6.4 A bola permanece em jogo, enquanto ela está rolando no solo dentro da área de gol. Ela está em posse da equipe do goleiro e somente o goleiro pode tocá-la. O goleiro pode pegá-la, o que a trará para fora de jogo, e então colocá-la novamente em jogo, de acordo com 6.4 e 12.1-2 (ver, contudo, 6.7b). Isto conduz a um tiro livre (13.1 a) se a bola for tocada por um companheiro do goleiro enquanto ela estiver rolando (ver, contudo, 14.1 a, em conjunto com o Esclarecimento nº 8c), e o jogo será continuado com tiro de meta (12.1 (iii)) se ela for tocada por um adversário.

A bola está fora de jogo, logo que ela estiver parada no piso dentro da área de gol (12.1 (ii)). Ela está em posse da equipe do goleiro e somente o goleiro pode tocá-la. O goleiro deve colocá-la novamente em jogo de acordo com 6.4 e 12.2 (ver, contudo, 6.7b).

Permanece como tiro de meta se a bola for tocada por qualquer outro jogador de qualquer equipe (12.1, 2º parágrafo, 13.3).

Está totalmente permitido tocar a bola quando ela estiver no ar sobre a área de gol.

6.5 A bola permanece em jogo, enquanto ela está rolando no solo dentro da área de gol. Ela está em posse da equipe do goleiro e somente o goleiro pode tocá-la. O goleiro pode pegá-la, o que a trará para fora de jogo, e então colocá-la novamente em jogo, de acordo com 6.4 e 12.1-2 (ver, contudo, 6.7b). Isto conduz a um tiro livre (13.1 a) se a bola for tocada por um companheiro do goleiro enquanto ela estiver rolando (ver, contudo, 14.1 a, em conjunto com o Esclarecimento nº 8c), e o jogo será continuado com tiro de meta (12.1 (iii)) se ela for tocada por um adversário.

A bola está fora de jogo, logo que ela estiver parada no piso dentro da área de gol (12.1 (ii)). Ela está em posse da equipe do goleiro e somente o goleiro pode tocá-la. O goleiro deve colocá-la novamente em jogo de acordo com 6.4 e 12.2 (ver, contudo, 6.7b).

Permanece como tiro de meta se a bola for tocada por qualquer outro jogador de qualquer equipe (12.1, 2º parágrafo, 13.3).

Está totalmente permitido tocar a bola quando ela estiver no ar sobre a área de gol.

6.6 O jogo deve continuar (através de um tiro de meta segundo a regra 6.4-5) se um jogador da equipe defensora tocar a bola quando em um ato de defesa, e a bola é agarrada pelo goleiro ou vem a permanecer dentro da área de gol.

6.7 Se um jogador jogar a bola dentro de sua própria área de gol, as decisões devem ser as seguintes:

* gol, se a bola entrar na baliza;
* tiro livre, se a bola vier a permanecer dentro da área de gol, ou se o goleiro tocar a bola e ela não entrar na baliza (13.1 a-b);
* tiro lateral, se a bola sair pela linha de fundo (11.1);
* o jogo continua, se a bola passar através da área de gol e voltar para o área de jogo, sem ser tocada pelo goleiro.

6.8 A bola que retorna da área de gol para a área de jogo permanece em jogo.

Considerações Pedagógicas sobre as regras do Goleiro de Handebol e a Formação da Equipe

Foco nas considerações sobre o goleiro

Falar do goleiro sempre é uma tarefa importantíssima na iniciação do handebol. Como principais pontos a serem esclarecido nesse artigo, citarei especificamente como as regras que falam (1) do fato de este poder jogar normalmente como um jogador de quadra ter a partir disso sobre ele a aplicação das mesmas regras que os jogadores de quadra; e (2) existência de uma área exclusiva ao goleiro; podem ser compreendidas e consideradas num processo pedagógico do handebol.

Atuando como jogador de quadra e as considerações pedagógicas

Ao observar que o goleiro pode sair livremente de sua área sem a posse de bola e atuar como um jogador de quadra torna-se possível verificar a importância de, em um processo de iniciação à modalidade, o goleiro não vir a ser uma posição específica do processo pedagógico, mas sim como um conteúdo que deve abranger toda a iniciação da modalidade, a final, segundo esclarece as regras, o goleiro pode jogar na quadra, normalmente, porém, o jogador de quadra não pode atuar como goleiro.
Todos os alunos devem vivenciar situações de proteção de alvos variados (mini ou grandes gols, cones, áreas e etc..) além da vivência das ações da quadra, pois numa perspectiva global de ensino não podemos pensar em hipótese alguma na especialização de goleiros apenas no gol e de jogadores de quadra apenas na quadra, uma vez que verificamos que um goleiro pode atuar tanto dentro quanto fora de sua área.

A área exclusiva e as considerações pedagógicas

Outro fato importante a ser destacado é a existência de uma era exclusiva para o goleiro. Observando esse fato, mostra-se uma grande diferenciação que o goleiro de handebol poderá ter se comparado a goleiros de outras modalidades, como o futsal e o futebol.
A bola, ao adentrar na área e ter o contato do goleiro passa, segundo as regras a ser compreendida como bola “fora de jogo”, e esta só voltará a entrar em jogo caso o goleiro a reponha para fora dessa área.
Portanto, havendo essa característica, observa-se como os goleiros de handebol podem dissociar a forma de defender se alvo apenas da utilização das mãos, pois devido à existência de uma área que seja exclusiva a ele, o goleiro poderá apenas interceptar a bola, sem a preocupação em dar, ou não, rebote, pois mesmo que o rebote seja dado e a bola ainda estiver em sua área, ela estará “fora de jogo”, segundo as regras.
Na iniciação, portanto, as atividades de aprendizagem das situações do goleiro devem contar com a presença de regras que estimulem ao aluno que está protegendo um alvo, a possibilidade dele “dar rebotes” sem que isso seja um problema grave para sua equipe, estimulando assim, a utilização dos pés, do braço e do tronco, além de suas mãos.
Isso pode se dar através de jogos em que existam áreas exclusivas dividindo duas equipes (Queimadas, Jogos de Rede em que a bola não possa cair no chão de primeira, jogo de alvos com a existência de áreas exclusivas para um defensor dos alvos, e outras adaptações).

Foco sobre a formação da equipe

Analisando a formação da equipe, nos deparamos inicialmente com números – “não menos que 7 jogadores podem estar presentes na quadra ao mesmo tempo”.
Verificamos, porém, que uma partida pode ser iniciada mesmo que haja apenas 5 jogadores de quadra e ainda é possível perceber pelas regras que em alguns momentos da partida, poderá existir um número ainda menor de jogadores de uma equipe.
Portanto, o número de jogadores de uma equipe num jogo formal pode variar e, portanto, faz-se necessário que jogos com variação de números de jogadores façam parte do processo pedagógico.
Unindo essa idéia de “variação de número de jogadores” com a idéia tratada no artigo anterior de adaptação de tamanho da quadra (clique aqui e veja o artigo anterior) torna-se importante que as várias situações numéricas de um jogo de handebol sejam vivenciadas (1×1, 2×2, 3×3, 3×2, 4×3, 4×2, 5×1, 5×5 e etc..).
Isso não impede que jogos com mais que 7 jogadores por equipe possam ser feitos, isso, pensando num processo de iniciação, torna-se também necessário, aumentando o suporte de jogadores para os iniciantes, ajudando a realização de passes e facilitando encontrar colegas desmarcados para que o jogo aconteça.
Greco & Benda (1998 ) destacam a utilização de uma “metodologia situacional” onde as situações do jogo, com variado número de jogadores das equipes sejam exploradas.

Bibliografia

GRECO, Pablo Juan., BENDA, Rodolfo Novellino. Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: UFMG, 1998

Explorando Pedagogicamente as Regras do Handebol – O Manejo e o Deslocamento com a Bola

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HANDEBOL NA VEIA – Esporte e comunidade

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Você que está visitando este sítio, possivelmente já jogou handebol. Provavelmente, você conheceu um mínimo da modalidade enquanto estava na escola, e jogou handebol em aulas de Educação Física no ensino fundamental e médio. Talvez você tenha se engajado em equipes representativas da sua escola, e disputado competições intercolegiais – são dezenas, talvez centenas de [...]

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Também jogamos handebol!

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Há quem diz que no Brasil só se joga futebol. Como diria o professor Nicolau: ‘ledo engano’! Também jogamos handebol. E pra sustentar essa afirmação, peço licença ao amigo leitor para fazer um relato e do relato uma homenagem e da homenagem uma reflexão pedagógica.


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Uma das dúvidas mais freqüentes nos processos de ensino-aprendizagem do handebol está nas possibilidades de manejar a bola e deslocar-se com ela. Essa dúvida geralmente centra-se nas seguintes questões: “Quantos passos posso dar com a bola?”; “Quantas vezes posso ‘quicar a bola’ (driblar)”; “O que é ritmo trifásico”; “O que é duplo ritmo trifásico?”. A [...]

Os problemas da especialização precoce em busca do resultado, Tathy Krahenbühl

Neste texto quero compartilhar uma preocupação com a especialização precoce de atletas no contexto da formação do handebol. A discussão não será quanto ao treinamento biológico precoce, mas quanto a especificação da posição, da falta de uma construção do conhecimento geral para o específico, deixando de promover a vivência e acompanhamento de todas as fases, sem prejudicar o aluno no seu processo de aprendizagem e aperfeiçoamento.

No dia-dia de treinamento de categorias de base chegam muitos alunos que não têm conhecimento sobre os conteúdos básicos do handebol e nem mesmo possuem um aprendizado anterior satisfatório para alcançar a meta do grupo, e muitas vezes não temos tempo de ensiná-los, sem pular etapas do treinamento, por já estarmos no meio do planejamento, ou quando já estamos com algumas metas traçadas. Porém, um erro grave e comum é colocá-los em uma posição durante os jogos ou coletivos em que eles não “atrapalhem” o treinamento ou onde “prejudicam” menos.

Nesta questão, quando um aluno chega nesta situação e o colocamos para jogar, em uma posição que julgamos menos complexa e lá o deixamos, estamos especializando precocemente um aluno que não passou por todas as fases do aprendizado. Em alguns de nossos textos publicados, falamos sobre o processo de ensino aprendizagem, em que envolvem os princípios operacionais e as fases do aprendizado para os jogos.

Relembrando os princípios operacionais do jogo, temos na visão dos estudos de Garganta (1998), os princípios do ataque, em que se enquadram a conservação da bola, progressão dos jogadores e da bola à baliza adversária, atacar a baliza adversária para alcançar o ponto, e os princípios defensivos, com a recuperação da bola, impedimento quanto a progressão da bola e dos jogadores adversários à meta, e proteção da baliza.

O aluno especializado precocemente saberá efetuar estes princípios, porém, somente na posição específica, ou seja, ele aprenderá estes princípios operacionais limitados a ação da posição, e no quando este aluno precisar, em um momento mais complexo do jogo, realizar alguns destes princípios em outra posição, ele não o executará com confiança, não terá habilidade, visão de jogo, entendimento e precisão para a tarefa proposta.

Um exemplo é quando o professor coloca um aluno para ser ponta direita, por que lá ele atrapalha menos, e então esse aluno faz todo o treinamento nesta posição. Ele saberá iniciar o ataque, saberá arremessar quando “sobrar”, e até mesmo saberá enfrentar a situação de 1×1 nesta posição. Porém, quando o jogo tornar-se mais complexo, com trocas de posto, cruzamentos, ele não saberá jogar na posição do armador ao seu lado, e isto será prejudicial do ponto de vista tático para o grupo.

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Como um jogador que nunca jogou em outras posições irá conseguir corresponder a ações táticas mais complexas se ele não tem o aprendizado necessário ao jogo como um todo?

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Por isso, é assustador ver quando uma equipe de base, em que há diferenças de idade, tanto cronológicas quanto biológicas entre os jogadores, coloca os “menos habilidosos” ou que ainda não entendem o jogo formal para jogar em posições “menos prejudiciais”, como pontas e pivô, e acabam formando vários atletas especializados precocemente.

Concordo com a ideia de Grecco (1995), que a partir dos 15, 16 anos, os atletas devem estar preparados para assumir funções específicas dentro da modalidade coletiva, porém, a especialização dos jogos desportivos coletivos é uma etapa subseqüente à iniciação esportiva. Os atletas precisam ter o conhecimento técnico e tático de todas as funções e de todos os tipos defensivos e ofensivos para que então ocorra a especialização em questão.

Assim, a especificidade do gesto técnico ou a definição de uma função na quadra devem estar de acordo com as experiências vividas anteriormente. Ou seja, este aluno precisa passar por todas as etapas do processo de aprendizado da modalidade para que então ele defina uma posição. Gomes (2002) relata que a especialização estreita quando se ignora o necessário desenvolvimento multilateral, contradiz o desenvolvimento natural do organismo principalmente nas idades infantis e juvenis. É importante que estes atletas tenham competências para concentrar suas ações e capacidades nos princípios que regem o jogo, como comunicação, posicionamento em espaços vazios, antecipação de ações ofensivas e defensivas, em todos os espaços do jogo.

Por isso, é necessário promover a passagem destes alunos pelas etapas do processo de ensino da modalidade de maneira global antes de chegar ao específico, para que, quando for o momento certo de especializá-lo, este jogador tenha todo o repertório motor, cognitivo e psicológico para assumir a sua posição no grupo, e efetuá-la de maneira precisa e satisfatória técnica e taticamente.

Referências:

GARGANTA, J. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: GRAÇA, A.; OLIVEIRA, J. (Eds). O ensino dos jogos desportivos coletivos. 3 ed. Lisboa: Universidade do Porto, 1998.

GOMES, A.C. Treinamento Desportivo: Estruturação e periodização. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Greco, Juan Pablo. O ensino do comportamento tático nos jogos esportivos coletivos: Aplicação no Handebol. Tese Doutorado – Unicamp. Campinas,1995.

Jogo de Defesa 3 por Jorge Knijnik

Nos artigos anteriores, discorri sobre os objetivos do jogo de defesa (clique aqui) e principalmente sobre os princípios do jogo de defesa (clique aqui), falando ao final sobre a defesa individual, bem como sobre os sistemas por zona de defesa, principalmente sobre os subsistemas fechados 6:0 e 5:1.

Nesta parte final desta miniserie de textos sobre o Jogo de defesa, gostaria de comentar sobre os sistemas por zona abertos, e também por aqueles conhecidos como mistos ou combinados. Cabe citar que os sistemas abertos podem sofrer uma grande transformação caso se confirme aquilo que o Lucas Leonardo citou em artigo neste site (clique aqui), ou seja, que o handebol passe a ser um jogo não mais com 3 passos, mas sim com 5 contatos no solo, e com a permissão do ‘duplo pentafásico’ – o que ao meu ver criará um novo jogo, diferente do handebol que conhecemos até então. A conferir.

Relembro que este texto é parte do meu livro “Handebol” recentemente lancado pela editora Odysseus (www.odysseus.com.br). Agradeço ao editor Stylianos Tsirazis a gentileza de autorizar a publicação deste trecho neste importante sítio do handebol da comunidade lusofona.

Sistemas abertos ou avançados

Os sistemas conhecidos como “abertos” são aqueles que, literalmente, abrem os espaços na primeira linha defensiva entre os defensores, diminuindo a amplitude de cobertura da área do goleiro. Em contrapartida, em termos de profundidade da quadra, atuam de forma a ocupar os espaços na segunda linha de defesa (nove metros) e até mesmo numa terceira linha de defesa imaginária (dez, 11 ou até 12 metros) no sentido de impedir os armadores (nove metros) atacantes de se aproximarem da baliza. Visualmente, eles são “abertos”, e suas maiores preocupações consistem em dificultar os arremessos de média e longa distância, além de dificultar a movimentação da bola por parte do ataque, através do trabalho de interceptação e dissuasão de passes. Cabe salientar que, apesar destes sistemas muitas vezes deixarem seus jogadores em situação de 1 x 1 (um defensor contra um atacante), eles não correspondem a uma marcação individual, são organizados por zona, e cada defensor tem uma região na qual deve se deslocar e proteger, como mostraremos a seguir. Estas zonas, apesar de grandes, delimitam e colocam os sistemas abertos como sistemas zonais por excelência. Ou seja, a eles devem ser aplicados todos os princípios defensivos já mencionados, como por exemplo, o fato do espaço entre dois defensores ser de responsabilidade de ambos na hora da defesa. Os principais sistemas que se enquadram nesta classificação são denominados 3:2:1 e o 3:3[1].

Sistema 3:2:1

Esta é uma formação intermediária entre o sistema 5:1 e o 3:3. Três defensores (externo esquerdo e direito, e central recuado) defendem a primeira linha defensiva (seis metros), atuando na lateralidade, na cobertura de infiltrações com e sem bola, e na marcação direta dos atacantes de seis metros (pivô e pontas). O central ainda deve fazer bloqueios ofensivos. Dois defensores (lateral direito e esquerdo) atuam na segunda linha defensiva, atuando em profundidade (frente e atrás), na marcação direta dos armadores laterais adversários, tanto nos arremessos de média e longa distância quanto nas infiltrações com e sem bola. Devem também fazer a cobertura da marcação do pivô quando a bola se encontra no lado oposto da defesa. Um defensor (central avançado, ou “bico”) atua na terceira linha defensiva (linha imaginária, por volta de dez a 12 metros da baliza), procurando interceptar e dissuadir passes, bloquear arremessos e passes, evitar as infiltrações com e sem bola do armador central, e se responsabilizar pela primeira onda do contra-ataque direto, de forma semelhante à atuação deste jogador no sistema por zona fechado 5:1.

Devemos lembrar sempre que, como foi dito anteriormente, o sistema aberto não trabalha com marcação individual, e sim com marcação por zona, por regiões da quadra. Assim, em princípio, um atacante deve ser sempre vigiado e marcado por dois defensores, ou seja, por princípio o espaço entre dois defensores, independentemente de sua amplitude, deve ser defendido por ambos. Assim, um jogador que tente se infiltrar entre o defensor externo e um dos laterais, deve ser objeto de pressão e de marcação de ambos, tal como aquele que tente passar entre o central avançado e o lateral deve ser marcado pelos dois, e assim por diante.

Desta forma, o grande segredo, o verdadeiro “pulo do gato” do sistema 3:2:1 está na marcação do pivô. Neste momento, o posicionamento do jogador central recuado é essencial e deve ser compreendido com clareza neste tipo de defesa, a fim de evitar erros e fortalecer esta marcação. Este defensor, também conhecido como o defensor que está na “base” da defesa, o marcador “base”, é fundamental, pois é ele que orienta o posicionamento da marcação, por ter uma visão geral de todos. Ele também deve fazer a cobertura do defensor avançado (seja o central ou os laterais) que marca o atacante que está com a bola. Desta forma, o central recuado desliza rapidamente por trás dos jogadores avançados, sempre próximo à primeira linha da defesa. Se a bola está na frente do central avançado, lá está o marcador da base. Se o avançado for ultrapassado, ele tentará evitar que o atacante chegue próximo ao gol. Se algum atacante avança com bola sobre um dos laterais avançados, estes têm a segurança que na cobertura atenta estará o central recuado. Pois bem, caso o pivô, o jogador do ataque que fica ali, em meio à defesa, se encontre próximo à região que o central recuado está no momento em que faz as coberturas dos demais, ótimo, ele também fica responsável pela marcação deste. Caso, porém, o pivô se encontre do lado oposto da bola, quem deve marcá-lo? O central recuado deve largar a cobertura e ir marcar o pivô? Jamais! A defesa é por zona, e a região do central recuado é ali, na cobertura dos demais, assim, quem recua momentaneamente para marcar o pivô, é o lateral avançado do mesmo lado que está o pivô, ou seja, do lado oposto ao da bola. Desta forma, como vemos no desenho, o sistema fica, neste momento, quase como um 4:2, com a vantagem que, se a bola for para o lado que este defensor lateral recuou, ele avança frontalmente para fazer a marcação, sabendo e confiando que o central recuado rapidamente chegará para ajudá-lo tanto na cobertura de suas costas, quanto na marcação do pivô.

Esta é uma das razões pelas quais o sistema 4:2 caiu em desuso, e o sistema 3:2:1 prevaleceu, pois, ao invés de dois jogadores ficarem correndo lateralmente, de forma mais lenta, optou-se, como no 3:2:1, por jogadores que possam recuar para marcar o pivô, e avançar para marcar os armadores laterais, sempre correndo frontalmente, e mais rapidamente.

Quando usar este sistema? Como sempre, ele possui vantagens e desvantagens, e o melhor jeito é conhecê-las, sabendo que grandes equipes (como a Metodista de São Bernardo, oito vezes campeã da Liga Nacional Masculina) o empregam, de acordo com as diferentes situações que o jogo apresenta.

Vantagens do sistema 3:2:1

a) Ganha profundidade em relação ao 5:1, mantendo uma razoável amplitude de cobertura da área do goleiro, em virtude da movimentação dos defensores laterais (nº 2);

b) Possui bastante flexibilidade no sentido de tornar-se mais agressivo (passando a 3:3) ou defensivo (5:1), ganhando ora em amplitude, ora em profundidade;

c) Consegue uma boa marcação de arremessos de média e longa distância;

d) Possui sempre dois defensores atuando contra os atacantes armadores.

Desvantagens do sistema 3:2:1

a) É frágil contra as infiltrações dos pontas adversários para a região central da primeira linha defensiva;

b) Frágil contra um ataque com dois pivôs;

c) Frágil na marcação dos pontas adversários, sobrecarregando os marcadores externos (nº1);

d) Só é eficaz com muito movimento, exigindo mais física e taticamente dos defensores.

Sistema 3:3

É o mais aberto de todos os sistemas, formado por duas linhas de defesa, sendo uma com três defensores (externos e central recuado, ou “base”) atuando na primeira linha defensiva, e outra linha composta por três defensores (laterais e central avançado) atuando numa segunda linha, que pode ser defensiva e recuada (nove metros) ou agressiva e avançada (dez a 12 metros). Este sistema difere do 3:2:1 por não existir uma terceira linha.

Na prática, os três defensores da segunda linha atuam em conjunto, não recuando a princípio para fazer coberturas quando a bola está do outro lado do ataque, como ocorre no 3:2:1 na hora da cobertura do pivô. Desta forma, e ainda considerando que, por mais aberto que seja o sistema 3:3 ainda é um sistema zonal, com os princípios de cobertura e de mútua responsabilidade sobre os espaços entre jogadores, como deve ser feita a marcação do pivô, sobretudo quando se encontra no lado oposto da bola? Ora, é claro que o defensor central recuado, o “base”, não pode ficar marcando individualmente o pivô, pois se ele assim o fizer, bastará ao ataque ganhar uma disputa, uma finta de um defensor avançado, e a área do goleiro, em sua porção central, estará totalmente desguarnecida. Desta forma, o central recuado deve sempre estar atuando na cobertura dos jogadores que avançam, dificultando a infiltração de jogadores com bola. Se o pivô estiver próximo dele, ótimo, caso o pivô se desloque para o outro lado, quem deve vir ajudá-lo nesta marcação é o defensor externo do lado oposto ao da bola, o número um

Com isso, claro que se corre o risco de deixar o ponta do lado oposto da bola livre, mas como há muitos defensores na trajetória de um possível passe cruzado (a linha do passe), a defesa arrisca para conseguir fazer a cobertura da zona mais perigosa, e se a bola for cruzada, todos devem se deslocar correndo para fazer as respectivas coberturas. Ou seja, o “base” corre para o pivô, enquanto o externo corre para marcar o ponta que estava livre. Percebe-se assim que este é um sistema dos mais arriscados dentre os sistemas de marcação por zona, pois propicia muitas situações “1×1” e também por abrir em demasia a linha da área do goleiro. Só deve ser utilizado por defensores que possuem ótimo domínio das técnicas defensivas e, em geral, não é usado por muito tempo dentro de uma partida, pois desgasta demasiadamente os jogadores defensores, física e mentalmente. Assim, muitos técnicos optam por usá-lo em determinados momentos, quando precisam recuperar a bola rapidamente, no final de um jogo, ou quando pretendem pressionar a equipe adversária por alguns minutos.

Uma exceção a este pensamento ocorreu na final da Liga Nacional Feminina de 2002, quando jogavam A.A. Guaru contra E.C. Mauá/Universo. Esta segunda equipe estava muito reforçada, com grande parte de seu elenco estrelado sendo da seleção brasileira – jogadoras fortes, com grande potencial de arremesso de longa distância. Já a equipe de Guarulhos, do técnico Robson Andrade, contava com jogadoras novas e rápidas. Assim, ele montou a estratégia de fazer uma marcação 3:3 pressionando muito o ataque adversário, com a sua segunda linha de defesa atuando quase no meio da quadra, dificultando a troca de passes e a locomoção com bola das jogadoras do adversário. Estas , apesar de serem muito fortes no jogo com bola, pouco se deslocavam sem a bola para tentar recebê-la e, desta forma, a equipe do Guaru conseguiu forçar diversos erros de ataque do adversário, seja de passes longos (uma armadora lateral para a ponta do outro lado), ou mesmo faltas técnicas, como segurar a bola por muito tempo (mais que três segundos) ou dar mais que os três passos permitidos.

Assim, como com os demais sistemas, vale a pena analisar o que de bom e o que de ruim tem este sistema, para decidir em quais momentos do jogo usá-lo.

Vantagens do sistema 3:3

a) Dificulta muito os arremessos de média e longa distância;

b) Dificulta muito a movimentação da bola entre os armadores de ataque, sobretudo quando agressivo;

c) Dificulta muito a movimentação dos armadores de ataque, com e sem bola;

d) Por ser um sistema baseado também na dissuasão de passes, é ideal para a retomada da bola, pois há três defensores diretamente responsáveis por este trabalho, o que pode provocar muitos erros técnicos (passes, passos) e de regras (manejo irregular de bola) no ataque.

Desvantagens do sistema 3:3

a) Abre muito a linha da área do goleiro, facilitando infiltrações e arremessos de seis metros;

b) Frágil contra ataque com dois pivôs;

c) Provoca muitas situações “1×1”;

d) Exige muito física, técnica e taticamente dos defensores, pois há uma sobrecarga de funções muito grande para cada posição.

Sistemas combinados (ou mistos)

Combinam uma defesa por zona com a marcação individual de atacantes destacados, com o objetivo de anular ou dificultar a atuação ofensiva de um jogador que esteja fazendo muitos gols, ou mesmo organizando muito bem o ataque. Este tipo de defesa chegou a ser proibido pela Federação Paulista de Handebol na década de 1990, em jogos de categorias menores, pois os técnicos consideraram que ele estava “matando” o desenvolvimento de bons jogadores, pois quando algum jogador de 15 anos ou alguma moça da mesma idade se destacava em seu clube, eram rapidamente marcados individualmente pelos demais times, e não tinha chances de se desenvolver na competição, pois ficava marcado e parado quase que um ano inteiro. Mas os tempos eram outros, e a preocupação com o desenvolvimento de jovens talentos era muito grande. Geralmente, há dois tipos de sistemas combinados:

SISTEMA 5+1

Cinco defensores atuam em bloco, na primeira linha defensiva, como se marcassem 5:0. Um defensor marca individualmente um atacante destacado.

Vantagem principal

Anula o melhor atacante do adversário.

Desvantagem principal

Faz com que a defesa atue mais desguarnecida, tendo que cobrir mais espaços.

SISTEMA 4+2

Quatro defensores atuam em bloco, na primeira linha defensiva, como se marcassem 4:O, dois defensores marcam individualmente dois atacantes destacados

Este tipo de sistema combinado dificilmente é usado por todo o jogo, mas muitas vezes em situações específicas, como quando uma equipe está em vantagem numérica na defesa. Isso mesmo, muitas equipes pressionam os adversários quando momentaneamente em função de uma exclusão, o ataque adversário se encontra por dois minutos com um jogador a menos. Além da intenção de dificultar ainda mais o ataque, com esta pressão também se pretende fazer com que a equipe que está na defesa não se acomode pelo fato de estar com um a mais em quadra, mas que fique bem ativa, com dois marcando individualmente, e quatro se movimentando muito na primeira linha.

Principal vantagem

Anula os principais atacantes adversários.

Principal desvantagem

Sobrecarrega os defensores que marcam na primeira linha, com muito mais espaço para cobrir e se movimentar.
[1] Há outros sistemas como o 4:2 e mesmo o 1:5, mas, nos últimos anos eles não têm sido empregados por quase nenhuma equipe, pois a maior parte dos treinadores, quando pretende usar um sistema aberto, reconhece mais vantagens naqueles que estamos discutindo aqui.

Considerações Didático-Pedagógicas para a Aprendizagem do Handebol através de Jogos. por Lucas Leonardo

Inicío este artigo trazendo algumas considerações importantes para quem utiliza o jogo como uma ferramenta de ensino, sistematizando jogos para que o processo de ensino-aprendizagem seja atingido.

Abordarei aqui três principais etapas que devem ser respeitadas para que jogar seja capaz de ensinar.

Chamarei de conceito o objetivo de aprendizagem que queremos atingir num determinado momento de nosso planejamento (pode se um fundamento técnico como um passe, um meio tático como as penetrações sucessivas, ou mesmo um determinado subssistema de jogo ofensivo ou defensivo, como uma defesa 3:3).

ETAPA 1 – Aprender sem saber que está aprendendo: aprendizagem incidental

Considero que antes de explicar ao aluno o conceito circunstancialmente (fora do ambiente aplicado do jogo) como geralmente fazemos, devemos possibilitar que o aluno vivencie jogos que potencializem a aplicação desses conceitos circunscritamente (dentro do jogo) e que, inicialmente, busque a aprendizagem incidental desse conteúdo, ou seja, sem que o aluno saiba que está aprendendo.

Pelo fato do aluno não saber exatamente o que deve fazer, o professor deve problematizar a atividade o tempo todo, dando dicas para que os alunos busquem entender como solucionar o problema principal do jogo. Mas cuidado: não responda o que fazer, apenas dê indicações.

Consideremos que temos a intenção de ensinar aos nossos alunos, num determinado período de nossos treinos/aulas, o conceito das penetrações sucessivas (engajamento). Pode-se sugerir, para isso, um jogo de alvos centrais no qual colocaremos as seguintes regras:

* O jogo deve ser jogado no circulo central da quadra e nas cabeças dos garrafões da quadra de basquete.
* O objetivo do jogo é saltar para dentro da área e entregar em mãos a bola ao companheiro-alvo que está no centro desses círculos e que deve ter sua área de atuação restrita a um arco colocado no chão (não podendo sair do arco para receber a bola).
* A equipe de defende deve proteger o alvo, fechando as possibilidades da equipe que ataca penetrar para dentro da área através de um salto.
* A equipe que ataca pode marcar pontos de duas formas:
o 1 ponto, se o jogador de ataque entregar a bola ao companheiro-alvo a partir de uma finta sobre seu adversário;
o 2 pontos se o atacante que saltar e entregar a bola ao companheiro-alvo penetrar na área adversária a partir da penetração num espaço vazio na defesa.

Apresentada a atividade, os alunos devem vivenciá-la e o professor deve orientar, dando dicas de como atingir a principal pontuação (penetrar num espaço vazio):

* “É melhor atacar o defensor ou buscar um espaço vazio?”
* “Será que se receber a bola parado você irá conseguir aproveitar algum espaço da defesa?”
* “Vamos tentar pegar a bola em progressão, já estando em velocidade! Isso pode ajudar!”
* “Devemos sair todos juntos do estado de repouso ou será que um inicia primeiro a ação e só depois o próximo jogador inicia seu deslocamento?”

ETAPA 2 – Apresentar o conceito que se quer ensinar: estimular a inteligência circunstancial e possibilitar a representação do conceito mentalmente

Após ter vivido esses jogos de conceitos ainda dentro de um nível potencial (ou seja, ainda sem necessariamente garantir o acesso ao conceito que se quer ensinar, mas estimulando o aluno a atingir esse conceito pelos objetivos que a atividade propõe aos jogadores), é que se deve explicar circunstancialmente (de forma verbal, com pranchetas, lousas e etc..) o que é o conceito que se quer ensinar.

Isso se justifica pelo fato de que ao ser apresentado o conceito, o aluno tenderá a realizar “pontes” entre o conceito apresentado formalmente e o(s) jogos(s) até então jogado(s) por ele, fator que possibilita a representação mental do que se fala, como se o aluno jogasse o jogo em sua mente, e assim o conceito passado de forma circunstancial (fora do ambiente de jogo) passa a ser significado dentro do contexto dos jogos já realizados anteriormente.

A etapa da representação é muito importante para o ensino pelo jogo, afinal, quantas vezes não percebemos que nossos alunos executam uma determinada atividade oferecida sem entender para que ela realmente serve? Isso é muito comum quando consideramos que a simples explicação verbal é capaz de ensinar o aluno a realizar tal conceito em jogo. Porém, quando ele joga (e aprende incidentalmente) e depois conhece o determinado conceito, ele se tornará capaz de contextualizar o que foi explicado. Isso é a representação.

ETAPA 3 – Aplicação direcionada do conceito: saber o que se deve fazer e aplicar em ambiente de jogo.

Agora, tendo claro o conceito, sua estrutura e a forma de realizá-lo eficientemente, e tendo vivenciado jogos que possibilitem a significação desse conceito através da representação mental, pode, então, criar jogos de aplicação do conceito circunscrito ao jogo, permitindo agora um momento de aprendizagem no qual os alunos sabem realmente o que devem fazer para atingir o objetivo da atividade.

E esse jogo não necessita ser novo. Os mesmo jogos vividos anteriormente podem (e devem) ser novamente aplicados. A ideia é verificar se há melhora qualitativa do jogo, se os problemas se resolvem mais facilmente e se, agora, a comunicação entre os alunos são direcionadas para um mesmo objetivo tático.

Dessa forma, ao aplicar novamente o jogo de alvo central, com as mesmas regras, deverá ser observada, ainda que com alguns erros, a melhoria do nível de jogo dos alunos. Os erros são normais e aceitáveis sempre, afinal, mesmo tendo agora o aluno representado o que é melhor fazer no jogo, a partir do conceito apresentado fora do jogo, ele ainda não aplicou esse novo saber e, ocasionalmente, cometerá alguns erros.

Espero que essas considerações didáticas possam ser incorporadas no dia-a-dia e ajudem todos a ter mais segurança para trabalhar com o jogo para ensinar handebol.