quinta-feira, 27 de maio de 2010

Abandono Precoce e Iniciação Esportiva Antonio Cunha

– propostas para mudar esse cenário
26 maio 2010 por António Cunha

Este trabalho teve a colaboração do Prof. Carlos Resende Docente e Ex-Treinador Campeão Nacional pelo F.C. do Porto e Atleta Internacional de elevado nível desportivo e do Prof. Lucas Leonardo, coordenador do site “Pedagogia do Handebol”

Para que seja possível aprender é necessário que haja processo. Para haver processo, torna-se necessário haver adesão.

A preocupação com o abandono precoce na iniciação esportiva é algo que nos últimos anos vem sendo muito estudado por pesquisadores que se preocupam com uma nova abordagem de ensino do esporte.

Dentre pesquisadores desse assunto, o professor Professor Roberto Paes da UNICAMP é um dos principais autores que, além de discutir as questões do abandono precoce relaciona tal problema educacional e o processo de especialização precoce.

Especialização precoce e abandono precoce, ambos são peças de uma mesma engrenagem, que criam um infeliz circulo vicioso de entrada, abandono e muita vezes, desgosto pelo esporte.

Especializar precocemente tem total vínculo com uma visão de ensino que se baseia na ânsia pelo alto-rendimento esportivo e os vilões da história podem ser muitos: professores, pais, dirigentes de clubes e outros.

Porém, o professor, como principal responsável pela práxis educacional, é peça fundamental desse ciclo que se forma e também, o primeiro responsável pela sua transformação.

O professor Antônio Cunha, da Faculdade do Porto, também é um dos principais nomes que estudam essas questões com especificidade no handebol.

Na Conferencia entre a FPA (Federação Portuguesa de Andebol) e as Universidades portuguesas sobre a problemática do handebol nas escolas portuguesas, o professor apresentou um trabalho aplicado, voltado para a discussão dos problemas do abandono precoce e buscando solucionar tal questão.

Foi um trabalho intensivo nas aulas de estudo práticos na Faculdade do Porto e testado com sucesso há 4 anos.

Em pesquisa realizada com os jovens atletas inscritos na AAP (Associação de Andebol do Porto, a maior de Portugal) que abandonaram a modalidade no início da sua carreira desportiva, as principais causa destacadas foram:
1.Não entendimento por parte dos novos praticantes com os objetivos do treinador/atleta nos indicadores básicos a aprender.
2.Insatisfação no lugar obrigado a jogar quando as expectativas eram outras.
3.Modelo de competição condicionada nos seus aspectos regulamentos técnico/pedagógicos, pouca liberdade da aplicação do Jogo Livre como forma principal da motivação por parte dos novos praticantes.
Face a esta realidade foi realizado um trabalho de pesquisa aplicado nas aulas práticas a proposta da “rotatividade dos postos defensivos” em que o aluno estava atuando. E, por haver mudança rotativa dos postos defensivos, havia, por consequência, no ataque uma correspondência a novos lugares, tornando o jogo mais atrativo e motivador, promovendo experiências diversificadas durante o jogo, o que para as fases iniciais de aprendizagem é imprescindível, principalmente por essa ser uma fase de descoberta (figura 1, clique nela para ampliá-la).

Figura 1. Rotatividade defensiva e consequente rotatividade ofensiva: multiplicação de experiências esportivas no handebol (clique na imagem para ampliá-la)

Desde sua aplicação iniciada nas aulas de Estudos praticos II e IV (Bolonha) Handebol, os resultados tem sido excelentes por parte da receptividade dos alunos e alunas( a maioria não tem experiencia de andebol a nível federado nem escolar), e como tal, pode-se apontar soluções para que uns dos graves problemas da aprendizagem do handebol pelos jovens seja resolvido. A rotação dá se não ao gol, mas sim em jogos de tempo ou score limitado 3 ou 5 gols e roda-se nessa altura, assim se ganha rotinas dos lugares específicos.

No entanto, ainda assim, a Federação Portuguesa ainda não adoptou o “modelo” nas categorias de base, face a perda sistemática em todas as épocas de centenas de jovens. A razão principal de não se ter verificado as mudanças regulamentares foi porque nós consideramos importante 3 a 5 anos de reflexão e experimentação nas aulas e ouvir os praticantes para passarmos para a alteração regulamentar.

Esse problema, voltado à adaptação de regras para a iniciação esportiva também é um fator de dificuldade nas ligas e federações brasileiras.

Existem boas iniciativas, porém, quase sempre o tradicionalismo voltado à ansiedade por resultados esportivos e pela definição de funções no jogo realizados de maneira precoce, vencem as novas ideias baseadas em fatores estudados cientificamente por pesquisadores que adotam novas abordagens de ensino do esporte.

Esperamos que essas questões sejam mais bem discutidas e refletidas por todos nós, professores e educadores do esporte coletivo.