quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A busca pelo jogador inteligente

A busca pelo jogador inteligente

Perfil é a novidade em projectos de formação adoptados por equipes de São Paulo
Autor: Guilherme Costa *

A ideia de que todo treino deve ser pautado nos jogos, com actividades que reflictam os problemas que os atletas encontram em campo, pressupõe um cenário de competitividade. Contudo, a base teórica do modelo pedagógico fundamentado no jogo não tem relação com a intensidade. Ao contrário, encontra suporte no lúdico para fomentar o desenvolvimento dos atletas.
A abordagem pedagógica pode ser vista nas categorias de base de dois clubes do interior de São Paulo. Com base na teoria do jogo, Paulínia e Paulista desenvolvem projectos focados na formação de atletas inteligentes - num sentido amplo da palavra, não ligado apenas à capacidade de acumular conhecimentos de currículo escolar - e pautam sua metodologia cotidiana em actividades pertinentes às partidas.
"Para nós, treino e jogo e jogo é treino. Isso quer dizer que treinamos o que vai acontecer nas partidas de forma real e contextualizada. Baseamos isso na teoria da complexidade, no pensamento sistémico e na busca pelo jogador inteligente", conta Alcides Scaglia, pedagogo que participa dos dois projectos.


Existe preparação física?

Preparadores físicos são profissionais com presença constante nas equipes brasileiras, mas sua actuação não encontra espaço na perspectiva de futuro do esporte
Autor: Guilherme Costa *

Ele é tão presente nas comissões técnicas de equipes de futebol no Brasil quanto o próprio treinador, mas sua função ainda é mal compreendida por quase todos que vivem no mundo do esporte. Diante disso, uma dúvida cerca o trabalho dos preparadores físicos: será que existe realmente uma preparação que seja apenas física?
A resposta depende muito do tipo de abordagem feito com os jogadores. Preparar fisicamente os atletas é fazer com que as respostas corporais sejam cada vez mais condizentes com as exigências da modalidade em questão. Mas não existe nenhum tipo de preparação que seja exclusivamente físico ou que mexa apenas com o físico dos desportistas.
"A preparação física é um suporte para o desenvolvimento do esporte, até porque os atletas dependem muito do físico para poderem render. Mas isso não pode ser visto como um factor isolado, já que um atleta não evolui de forma contundente se não estiver comprometido com o que está fazendo. Não é possível dissociar o físico de outros componentes do ser humano", lembra o preparador físico Fábio Correia, que trabalha no time de vôlei de Santander / São Bernardo.




Escolinhas: a nova realidade no processo de formação

Com a redução do espaço para o futebol nas ruas e nos campos de várzea, iniciação se dá cada
Autor: Guilherme Costa *



Mais do que a preparação física ou técnica, a grande mudança no futebol desde seu surgimento para a realidade actual foi o cenário. Os campos de várzea e a prática do esporte nas ruas, comuns no início do século XX, foram reduzidos drasticamente pelo processo e o crescimento das grandes cidades. No lugar deles, o primeiro contacto dos garotos com o esporte passou a acontecer nas escolinhas. Mas será que o modelo pedagógico desses centros é o ideal para a formação dos atletas?
Existe uma intensa discussão sobre o modelo adoptado nas escolinhas de futebol. A maioria é comandada por ex- jogadores, que aplicam com os garotos uma metodologia parecida com a que fazia parte de seu dia-a-dia como atleta. Com base no conhecimento empírico, eles usam com as crianças uma abordagem parecida com a que existe em times adultos e criam estruturas miniaturizadas do trabalho realizado com profissionais.
"As escolinhas de futebol têm um papel fundamental para o desenvolvimento dos atletas. Mas eu sou contra algumas metodologias de ensino. Crianças que apenas cumprem ordens têm a liberdade tolhida e uma enorme dificuldade de raciocínio", explica o sociólogo e professor de educação física Sérgio Jorge Burihan.


A acção de empresários nas equipes de base
Profissionais auxiliam a formação dos atletas, mas muitos deles podem ser ‘vilões´ no processo de formação
Autor: Guilherme Costa *

A Lei Pelé e o aumento da liberdade dos atletas no futebol transformaram o status de um personagem do esporte. O empresário ganhou importância e passou a actuar como elo entre clubes e jogadores. Com esse trabalho, sem espaço para meio termo, a categoria oscila entre as imagens de herói e vilão. Essa dicotomia é ainda mais evidente no trabalho com as equipes de base, nas quais os agentes são muitas vezes os responsáveis por toda a estrutura de seus contratantes.
Os empresários são responsáveis por negociar contratos dos jogadores que os contratam com os times de futebol. No entanto, sua influência não espera os atletas completarem 16 anos, quando podem assinar contratos profissionais. Eles actuam desde cedo, dando todo o suporte para a iniciação dos garotos no esporte.
Essa ligação, porém, deu origem a situações inusitadas. Alguns empresários deram origem a suas próprias equipes para desenvolver trabalhos com as metodologias que julgam corretas e revelar atletas. Essa prática, que criou uma "concorrência" para os clubes, foi condenada pela maioria dos dirigentes.

Os melhores profissionais estão nos lugares certos?
Fisiologista do Corinthians discute o trabalho dos mais preparados em equipes profissionais e acha que essas pessoas ajudariam muito trabalhando na base
Autor: Guilherme Costa *

Quem é o melhor técnico de futebol do Brasil? Se a pergunta for feita nas ruas, dificilmente surgirá um nome que nunca tenha comandado uma grande equipe do país. A mesma lógica vale para todas as áreas ligadas ao esporte, mas essa estrutura não é totalmente aceita. Para Paulo Zogaib, fisiologista contratado pelo Corinthians neste ano, existe um erro conceitual na contratação de profissionais da modalidade.
"Eu defendo uma idéia de que os melhores profissionais das comissões técnicas deveriam trabalhar nas categorias de base", explica o profissional da equipe alvinegra.
A tese de Zogaib é baseada na importância do processo de formação de atletas. A maioria dos profissionais mais renomados e mais preparados atua nas equipes principais. Assim, essas pessoas não podem usar seu conhecimento para desenvolver os jogadores e precisam trabalhar para compensar os erros cometidos no início da trajectória desportiva.